[ stand up! jweick ]

Listening to: Utada Hikaru ~ ULTRA BLUE

Você já ouviu falar num cara chamado Marcel Pereira? Não?! Então pode considerar metade da sua vida perdida, porque conhecê-lo teria sido, para você, assim como foi para mim, uma experiência incrível e inigualável, pela qual você teria adorado passar. Inteligente, alto-astral, exótico, parceiro, irmão, bonito, indeciso, feliz. Tudo de bom que alguém como eu procura dentro das pessoas; foi nele que eu encontrei muito disso e que me fez um bem danado. Nada de contatos pessoais, só mais uma das minhas amizades virtuais quase impossíveis de se materializar. Só que dessa vez estava fazendo aquela diferença, sabe como é? Quando você sente que a pessoa entrou na sua vida para fazer um arraso daqueles? Para mudar muitos dos seus conceitos; para te mostrar uma visão diferente da mesmice que você costuma usar; para te mostrar o mundo com uma nova cara, até então desconhecida por você, que era, até então, um tapado total e perdido em meio às suas futilidades. Sim, ele chegou para fazer a diferença. E fez. E se foi.

O Mah conquistou minha amizade por ser simples e puramente 'o que era'. Nada de máscaras, camuflagens, álibis. Nada disso. Era um parceiro, que se mostrava nu e cru, como se costuma dizer, esbanjando naturalidade e sendo um dos caras mais perfeitos, por saber fazer muito do que eu não sabia, por conhecer muito do que eu não conhecia, por ter muito do que eu não tinha e por dividir bastante comigo tudo isso. Me deixava merguhar junto com ele pela sua vida e eu o deixava mergulhar na minha também. E a gente trocava. Porque amizades são sustentadas por muitos alicerces e dentre eles a troca do que é bom é um dos mais fortes pilares. A pureza também é um deles. A tolerância talvez seja mais um. Construimos esses pilares e fomos dando continuidade a uma obra divina que tinha tudo para crescer indefinidamente, mas de forma bem concreta, por muito e muito e muito tempo. Mas não deu. Ele teve que deixar a obra por minha conta e, sem ele, é impossível dar continuidade a ela. Eu sou muito fraco. Hoje eu percebo que muito mais fraco do que já fui antes. Queria poder falar aqui sobre construções; mas o que meu coração diz são somente descontruções. Desabamento. Cabum!

A morte ainda continua sendo uma das piores experiências. Por mais que a gente conviva com ela o tempo todo, em todo canto, a todo momento das nossas vidas, por todos os lugares para onde olhamos, sem nem ao menos precisar estarmos lá, ela insiste em pregar as peças mais macabras que podem ser impostas a alguém. Eu fico imaginando o por que de tudo ter que ser assim. Chega a ser idiota como quem se vai é quem menos merece ter de ir. E cada vez mais a certeza que cresce dentro de mim é a de que nada, absolutamente nada, é como a gente quer. Mais ou menos como o Jeová disse, a gente sempre vê as coisas acontecerem com as pessoas na Tv, nos abalamos ali naquele momento, mas logo depois a gente encara como "apenas mais uma vítima". Eu, sinceramente, não imaginava que doía tanto. E como dói. Se você não faz idéia do sofrimento que é a perda de uma pessoa especial, sinta-se feliz por isso. É uma das piores sensações do mundo. Tá certo que eu não sou nenhum conhecedor profundo do mundo, mas eu tenho certeza que não devem existir muitas coisas piores do que isso. Não mesmo.

Incontáveis conversas por MSN que vão ficar eternamente marcadas dentro de mim; conversávamos sobre o que vinha à tona, sem restrições, falando dos piores e dos melhores, do superficial e dos pormenores, de tudo um pouco, de gostos e desgostos, venturas e desventuras, sonhos e desejos, realizações e conquistas, paixões e dúvidas. Nossos momentos de perversão pelo chat; as revelações que nunca sonhei em contar para alguém e que ele me fez contar de uma forma tão natural como ele próprio. Acho que partilhar de coisas em comum nos fazia ainda mais próximos, ainda que com toda essa distância. Nunca vou esquecer dos poucos minutos que pude conversar com ele por telefone; a voz dele dizendo que "quando chegar em casa, eu te mando mensagem, tá?" ainda ecoa pela minha cabeça. A gente conseguia atingir um nível de entendimento um do outro que não é bem fácil para mim. Eu costumo dizer que sou um tapado. E sou mesmo. Demoro muito para "pegar as coisas" no ar. Mas com o Mah era diferente. A sintonia entre a gente era muito boa e me permitia me sentir melhor, mesmo não sendo melhor coisa nenhuma. Acho que eram as marés positivas dele que emanavam para mim e me tornavam por vezes mais confortável no meu mundinho. Mundinho que eu cuido com todo o carinho e que coloco dentro as pessoas que mais fazem diferença. Adorava ficar olhando o quarto dele pela cam; ele era tão organizado... Tinha prateleiras cheinhas de DVDs e CDs das suas predileções, revistas que eu sonhava em ter e que ele fazia questão de me mostrar para eu ficar morrendo de vontade, a cama-san que ele disse que seria onde eu dormiria quando fosse lá em Sampa fazer uma visitinha. Nossos planos sobre o que fazer quando eu chegasse lá, como aproveitaríamos minha viagem, as probabilidades de eu ir ou de ele vir... Tudo pela metade. incompleto. Não concretizado.

E é assim que a minha vida vai seguir a partir de agora. Faltando um pedaço, um bom pedaço, e eu vou ter que aprender a viver sem esse pedaço. Já estou bem dolorido, ainda não consegui descobrir quem atirou sal nos meus olhos; eles não param de arder. Eu não consigo mais parar de chorar. Eu sei que ele deve estar olhando lá de longe e rindo da minha cara patética, me chamando de Perva-san Bobo e Feioso, mas... É tão difícil... Tão difícil pensar que ele não está mais. Não está. E nem vai estar. Nunca mais.

Mas eu também sei que aquela figura é uma pessoa super importante e cotada e que ele vai ter muito trabalho para acompanhar cada um dos seus amigos, bem de pertinho, pela eternidade; sim, porque eu sei que ele vai querer estar com cada um de nós pela eternidade, assim como nós teremos sempre a sensação de tê-lo conosco, ainda que não neste plano. É como muitos disseram: certamente que ele está num lugar muito melhor do que o que estava antes. Lá ele não corre o risco de morrer, por exemplo. Mais uma vez. Por mais uma bala perdida. Sortudo o Marcel, não? Será que ele me leva também? Eu quero essa paz para mim...

Mah, eu amo você, meu irmãozinho.
Segue teu caminho, cara.
Eu vou tentar seguir o meu.

Saudações, pessoal.
E inté!

Ps.: Meus CDs chegaram.